Falas de cunho racista durante o Flipoços são repudiadas pela Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

As falas de cunho racista de um escritora durante a programação do Flipoços 2025 em Poços de Caldas-MG têm provocado discussão e indignação na cidade.
A Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e da Rede da Igualdade Racial de Poços de Caldas-MG emitiu uma nota de repúdio sobre o caso.
O caso envolvendo a escritora Camila Panizzi Luz ganhou repercussão depois que ela proferiu falas de cunho racista ao escritor Weslei Barbosa durante a mesa “Raízes e Asas: literatura e artes sem fronteiras, o encontro de mãe e filha na terra Natal”, dentro da programação do Flipoços 2025.
O escritor Weslei Barbosa, que também participa do festival no estande do Movimento e Literatura Neomarginal falava sobre o livro que escreveu, quando a escritora disse que também queria ser “neomarginal”, mas que nunca tinha sido presa, relacionando o fato de que ser neomarginal seria o mesmo que um criminoso. A fala foi considerada como uma interpretação totalmente equivocada.
Em apoio ao escritor a curadoria do Flipoços, por não compactuar com qualquer tipo de discriminação, preconceito e racismo rompeu vínculos com a escritora e cancelou todas as atividades que teriam a participação da autora.
Em nota emitida nesta sexta-feira, 2, a Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e a Rede da Igualdade Racial de Poços de Caldas repudiaram o acontecido:
Frente aos fatos, manifestamos nosso veemente repúdio e nos juntamos a Wesley Barbosa em sua jornada de luta e dedicação à literatura. É inaceitável que episódios de discriminação racial persistam em nossa sociedade, especialmente em um ambiente tão importante para o desenvolvimento da cidade, como é o Festival Literário Internacional.
Sabemos que a literatura, a cultura e a arte podem ser ferramentas poderosas para transmitir valores como respeito e equidade, na construção de uma sociedade justa onde todos se sintam pertencentes. Por isso, esperamos de todos os envolvidos no universo cultural uma postura ética e responsável.
Neste sentido, cabe destacar que a organização do evento decidiu romper vínculos entre a autora e a programação, retirar seus livros da feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras edições, além de se comprometer a abrir convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, garantindo a representatividade e pluralidade.
A Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica e a Rede da Igualdade Racial não concordam, não compactuam e não item qualquer tipo de discriminação, e preconceito, especialmente neste momento quando Poços de Caldas tem avançado significativamente na luta antirracista, com iniciativas de letramento racial e combate ao racismo estrutural, com a recente criação da Divisão e da Rede e adesão ao Sinapir.
Por fim, expressamos nossa solidariedade ao escritor Wesley Barbosa, afetado por este lamentável episódio em nossa cidade, e reforçamos nosso compromisso em trabalhar incansavelmente para erradicar o racismo e todas as formas de discriminação da sociedade. Não pouparemos esforços nessa luta.
A organização do Flipoços também se manifestou por meio de uma nota em apoio ao escritor:
“Nota de Apoio ao escritor Wesley Barbosa e ao Coletivo Neomarginais
O Flipoços 2025 repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes — especialmente aquelas que historicamente foram silenciadas.
Durante uma das mesas do Festival, um dos integrantes do Coletivo Neomarginais foi alvo de um episódio lamentável de cunho racista.
Na mesa “Raízes e Asas: literatura e artes sem fronteiras, o encontro de mãe e filha na terra Natal”, a escritora Camila Panizzi Luz decidiu convidar o escritor Wesley Barbosa, integrante do Coletivo Neomarginais, que estava na plateia para subir ao palco e participar da conversa, no entanto, ela assumiu uma postura inaceitável, com falas ofensivas ao autor do Coletivo.
Diante disso, o festival decidiu por romper vínculos entre a autora e a programação, retirar os seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do Festival.
Visando preservar o respeito e a escuta mútua nas próximas edições, o Festival se compromete à abertura de uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, que sempre esteve aberta a todos as formas de pensamentos enaltecendo a diversidade, representatividade e a pluralidade de vozes.
A presença do Neomarginais no Flipoços, com um estande vibrante e potente, é motivo de orgulho para todos nós. Suas obras são urgentes e essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e consciente.
Reforçamos que o Flipoços, ao longo de seus 20 anos, sempre foi — e continuará sendo — um espaço de liberdade, respeito e celebração da cultura em todas as suas formas.
Importante destacar que, em um espaço de fala livre e democrática como o Flipoços, não é possível prever o que cada pessoa dirá ao microfone. Ainda assim, reafirmamos que não compactuamos com nenhum tipo de discurso discriminatório ou ofensivo, e seguiremos atentos para preservar o respeito e a escuta mútua em todas as atividades do evento.
Seguimos juntos, lutando por um mundo onde todas as histórias possam ser contadas e ouvidas.”
A família da escritora Camila Panizzi Luz também se manifestou por meio de uma nota:
“Nos últimos dias, surgiram acusações públicas contra Camila, alegando condutas racistas com base em recortes de mensagens privadas e fora de contexto.
Reconhecemos que houve uma fala infeliz, que pode ter sido mal interpretada e por isso, lamentamos profundamente se alguém se sentiu ofendido.
Entretanto, é importante ressaltar que Camila tem plena consciência de seus privilégios e já demonstrou inúmeras vezes sua disposição em abrir espaço para outras vozes – inclusive, cedendo seu próprio protagonismo em eventos, feiras e espaços profissionais, em respeito e reconhecimento à desigualdade histórica que permeia nossa sociedade.
É doloroso ver a luta por justiça ser usada como palco para autopromoção. Esperamos que o debate avance com responsabilidade e verdade, e que possamos, todos, aprender e crescer – sem distorções, sem recortes convenientes.
Camila seguirá refletindo, aprendendo e se posicionando sempre ao lado da inclusão e do respeito.”